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segunda-feira, 5 de julho de 2010

fotografias da reforma agrária

sábado 3 de julho foi a inauguração, e foi ótimo!!!

durante a exposição de fotografias de meus/minhas alunas/o. Pediram para eu dizir um discurso, aqui ele.

para ver mais fotos http://www.flickr.com/photos/marianapessah/sets/72157624229679235/

Foi em novembro. Eu estava reunida com as mulheres e já começávamos a preparar “nosso mês de março”. Aí uma companheira comentou que uma – outra – argentina estava desenvolvendo um trabalho legal na Casa da Leitura.

Casa da Leitura? Perguntei. Eu ainda não conhecia o projeto em que tinha sido transformada a “casa do teto verde”.

- Sim, vai lá conhecer! Me disseram.

Cheguei e em seguida encontrei a Cilone. Ela, bem empolgada, começou a falar do projeto.

- Que legal, e vocês não gostariam de ter uma oficina de fotografia?

Uma hora depois, chegava Graciela, com a irmã recém vinda da Argentina, outra professora da UFRGS, a neta... Seguimos conversando, trocando idéias, experiências.

Depois de uma meia hora tive que sair, como já dizia, estava reunida com a mulherada fazendo o registro fotográfico dos trabalhos das caveirinhas e participando dos debates do mês de março – luta das mulheres.

Trocamos telefones, correios eletrônicos.

Na última semana do mês, nos encontramos com a Graciela e o Paulo, num café em Porto Alegre. Conversamos sobre como seriam as aulas, sobre o meu método. Falamos que eu nunca tinha dado oficinas para pessoas do campo, mas sim na área política.

Mês de abril. Áries, fogo, força, vida. Uma imagem vale mais que mil palavras.

Eu falei que não receberia dinheiro, cada participante daria o que tem, o que sabe. Eu, o meu amor pela fotografia, em troca receberia produtos da reforma agrária.

E assim foi, a cada semana eu voltava a casa com os “bolsos” cheios de produtos orgânicos, como aipim, bergamotas, geléia, arroz integral.

- Profe, este feijão, colhi eu mesmo da casa dos meus avós......

- Estas bolachinhas, nós mesmas que fizemos.

Essas palavras e atitudes me fizeram feliz ao longo deste tempo. Também, as conversas que tínhamos na volta com a Marivone.

No começo, os diferentes níveis de quem estava mais acostumada/o com a câmera, e quem pegava o aparelho pelas primeiras vezes, era perceptível. Com o correr das aulas, do tempo e dos exercícios, essas diferenças foram desaparecendo. Estou certa que hoje ninguém percebe isso na exposição.

Com o trabalho coletivo, fomos nos emocionando, nos envolvendo com os chuchus do Gustavo; o vô que lavava roupa da Ariana; os porcos e animais da Carini; a granja da Rosa; as crianças da Cilone; as laranjas que mostravam a produção da Gisela, junto com um irmão que virava a noite estudando.

Este é o quotidiano do assentamento Filhos de Sepé.

Como a gente veio trabalhando durante 3 meses: fotografia significa desenhar com a luz. Ou seja, foto é luz e grafia, desenho.

Mas também poderia se colocar luz no que a gente quer mostrar, na hora que aproxima o olhar de um fato que outras pessoas não tem acesso, ou simplesmente não conseguem perceber. Poderíamos dizer que utilizamos a fotografia para levar luz a temas pouco comuns, mas também que desenhamos o que nós queremos e o mundo que desejamos habitar.

Poderíamos acabar concluindo que a fotografia é uma ferramenta de luta, com a qual estamos construindo o outro mundo possível. E dando a conhecê-lo às pessoas que não conseguem perceber isso, ou simplesmente, não tem acesso a esse conhecimento, a essa informação.

Estas fotografias que aqui apresentamos nas paredes, são um grande abraço, pura alegria. Queremos mostrar que outro mundo é possível e que nós estamos abraçando sua construção.

marian pessah

fotógrafa

julho de 2010

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